Após um breve período de férias, desligado o máximo que pude da realidade de nosso país, retorno ao meu cotidiano sem nenhuma espectativa de melhoras significativas a curto, médio ou mesmo longo prazo. Na verdade, quando iniciamos este projeto do blog Coisa Pública, a intensão era levantar situações, questionamentos, denúncias, etc., e buscar respostas, soluções, caminhos. Após um trabalho de menos de 4 meses, vemos que há muito mais problemas do que conseguimos vislumbrar de soluções.
É comum hoje em dia ouvirmos falar em vontade política e em vontade para resolver problemas. Quando os assuntos são as reformas necessárias (reforma política, reforma eleitoral, reforma do judiciário, etc.), lemos muitas vezes opiniões de pessoas que entendem dos assuntos, trabalham ligados às áreas ou são professores e cientistas e parace haver uma certa unanimidade em dizer que soluções existem, e que é preciso apenas “vontade”.
Não acredito nisso. Não mesmo. Ao menos não no sentido literal da palavra, como “capacidade de querer, de escolher e de ter um desejo”.
Acredito que se perguntarmos a cada um dos signatários dos Contratos Sociais vigentes a respeito de sua vontade, haverá um apontamento virtualmente de 100% de vontades para que as coisas dêem certo, para que a corrupção desapareça, para que os corruptos sejam punidos, para que os crimes e criminosos tenham o tratamento adequado com resultados práticos, para que as pessoas respeitem a si mesmas e aos seus semelhantes, etc. Vontade é o que não falta.
Mas mais que vontade pura e simples, é preciso engajamento, é preciso disponibilização, é preciso trabalho, é preciso mobilização. Acredito que há solução sim, mas é preciso uma revolução social, revolução política, revolução econômica e financeira, revolução nas relações de trabalho, etc. Enfim, sem uma verdadeira revolução, não haverá mudanças.
Ou melhor, é preciso deixar claro: Sem revolução não haverá mudanças para solucionar os problemas sociais. Porque mudanças no sentido de agravá-las e de torná-las insuperáveis, isso há e haverá muito ainda!
Senão vejamos. Sou assinante de RSS de diversos sítios de notícias nacionais e internacionais. Vou citar apenas um exemplo prático: Entrem em qualquer um dos sítios de notícias brasileiros (Folha, Correio Brasiliense, Globo, Último Segundo, UOL, RAC, etc.) e realizem uma busca pelo termo “Superfaturamento”.
Em alguns sítios haverá retorno de mais de 50 matérias no último ano. Em outros, mais de 100 ou 150. No Último Segundo – IG, haverá um retorno de mais de 500 matérias nos últimos 2 ou 3 anos.
Se for feito um levantamento e uma filtragem de matérias repetidas e republicadas, chegamos facilmente a mais de 100 mátérias e denúncias, no último ano, de casos envolvendo superfaturamentos de obras públicas no país, em todas as instâncias administrativas (municipais, estaduais e federal). Se observarmos os valores denunciados, incluindo-se aí obras do PAC, Copa do Mundo, Olimpíadas, eleições fraudulentas, etc., chegaremos fácil ao cálculo de mais de R$ 10.000.000.000,00 (dez bilhões de reais).
Meus caros, esta conta foi feita por baixo, muito por baixo mesmo. Iniciamos este levantamento e desistimos de continuar, porque é extremamente frustrante fazê-lo. Mas os 10 bilhões em desvios, corrupção, propinas e superfaturamentos foram alcançados facilmente e com valores nivelados muito por baixo.
E se fizermos a mesma busca nos sítios noticiosos utilizando termos como “corrupção”, “propina”, “desvio”, etc., quantas denúncias mais teremos de desvio de verba pública? E não estamos falando apenas do Executivo! Estamos falando também de corrupção e desvios no Legislativo (que nunca fica abaixo de dezenas de milhares de reais, no mínimo, para cada caso) e das decisões e sentenças compradas no Judiciário (já postamos aqui casos de juizes envolvidos com crime organizado e politicagem).
O que isso significa? Significa que foram desviados dos cofres públicos verbas que deveriam ser utilizadas para garantir aos signatários dos contratos sociais o acesso à saúde, educação, transporte, lazer, alimento, etc.
E não é apenas o dinheiro que desaparece. São funcionários públicos que deixam de receber treinamentos e condições de atendimento ao público, são políticos que, tendo boas intensões e bons projetos, não têm verbas para implementá-los, são cargos que deixam de ser ocupados por pessoas com capacidade técnica para serem ocupados por capachos dos corruptos. E neste caso, o capacho rouba, propicia o roubo aos seus mandantes e, como se não bastasse, desestrutura todo o órgão onde foi posto sem a devida competência. Não apenas pelo desvio de verbas, mas porque o sem vergonha que ocupa cargo sem ter conhecimento técnico deixa de promover as ações necessárias para o aparelhamento e treinamento de seu corpo técnico, deixa de promover aos cargos de direção e coordenação as pessoas competentes (porque os competentes não precisam ser capachos), mancham de forma indelével a imagem e a capacidade administrativa do órgão público e, quando são postos para fora, raramente devolvem o que tiraram de nós, deixam uma vaga que será preenchida por outro pária que fará as mesmas coisas, só que de forma diferente e mais eficiente, para poder roubar mais sem ser descoberto (um corrupto aprende com os erros de seus antecessores – menos o Pallocci que não aprendeu nem com os próprios), todo o corpo técnico do órgão terá que se readaptar à nova direção, etc.
E com isso, a população, os usuários, continuam sem atendimento adequado, os funcionários públicos decentes e concursados continuam sem perspectivas e sem moral, o órgão perde, o funcionário perde, o povo perde, a nação perde, o país perde e perdemos todos enquanto “humanidade”.
Há soluções sim. Mas não adianta “consertar e remendar”. É preciso uma revolução, uma transformação total e completa. O modelo de administração que conhecemos e estamos tentando fazer funcionar está falido e tenho convicção de que não tem conserto. É preciso outro modelo, outra forma de fazer administração pública, outra forma de construirmos nossa sociedade.
Enfim, precisamos de outros Contratos Sociais. Nossa sociedade, como a concebemos e procuramos manter, está acabada. Só teremos soluções sociais quando admitirmos que temos que recomeçar, com outras bases, outros modelos e outras premissas.
Hoje, o ilícito, o corrupto, a indignidade, a desumanidade e a infâmia são as regras. Temos que assumir modelos e contratos que as tornem excessões, tratadas de forma exemplar. É isso ou assitir o show de horrores continuar, crescer, destruir tudo e consumir a humanidade que ainda nos resta.
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