Temos visto frequentemente na mídia, ultimamente, notícias a respeito do bullyng, a agressão sofrida por estudantes dentro e fora das escolas, violência perpetrada pelos seus colegas estudantes. Podem praticar essa violência indivíduos que se aproveitam de sua maior força ou tamanho e também ocorre quando grupos se reúnem para agredir indivíduos ou grupos menores e mais fracos, pelos mais variados motivos.
Alguns dos motivos para a prática do bullyng chamam a atenção: Agressões porque a vítima é mais bonita ou bonito; Porque a vítima tem boas notas ou bom relacionamento com os professores; Porque se veste bem ou aparenta ter uma vida melhor, fianaceiramente falando; Porque a vítima tem preferência ou tendência homossexual, etc.
Não pretendo neste post analisar as origens da palavra bullyng ou sua história, nem mesmo pretendo analisar os motivos alegados pelos agressores para a prática da violência.
Mas chama a atenção o fato de que esta prática, conhecida e vivenciada há muitos anos por todos os que frequentaram escolas, tem assumido proporções assutadoras ultimamente. Quando criança, sofremos agressões por diversos motivos, que não vêm ao caso agora. Mas nunca pensamos em deixar de estudar, ou sequer perdemos um dia de aula por estar “nos recuperando”, não é? A violência não era assim tão grande, pelo menos não fisicamente. Moralmente é sempre humilhante ser agredido, mesmo que a agressão seja praticada por alguém maior que você ou por um grupo, mas sobrevive-se.
Claro que aprendemos a nos defender, fizemos amigos, aprendemos artes marciais, etc. E na maioria dos casos em que fomos agredidos, em questão de dias haviamos resolvido o problema, sendo que em vários casos os agressores tornaram-se nossos amigos, alguns deles permanecendo assim até hoje. Não é verdade?
O que mudou então?
Quando eramos criança, agressões nunca terminavam em tragédia. Se houvesse interferência de um adulto, pai de aluno ou de um professor, ninguém morria nos dias seguintes por causa de vingança ou retaliação. Ninguém ia armado para a escola, nem mesmo canivete, muito menos com arma de fogo! Após uma briga, o professor perguntava o que aconteceu, conversava com todos os envolvidos, obrigava a apertarmos as mãos. Se fosse o caso, suspendiam alguém por um dia ou dois. MAS NINGUÉM MORRIA!
Hoje, o agredido volta armado para a escola, atira em todo mundo, feri e mata. Se o motivo da briga é um amor não correspondido, podem morrer mais crianças ou adolescentes, porque o rejeitado acredita que tem o direito de atirar em quem bem entender. O agressor, se algum professor interfere ou se o suspendem, volta armado, mata, depreda escola e veículos, ameaça todo mundo, etc.
Porque tudo isso está assim?
Será porque a vida humana está banalizada em todas as instâncias? Se uma família acompanha o abandono e a morte de um membro porque o serviço público de saúde não o atende em tempo ou a contento; Se filhos de viciados em drogas e álcool são abandonados pelo Estado, que nada faz para preservá-los; Se vítimas de violência doméstica precisam suportar, fugir ou morrer, porque ninguém os socorre; Se mulheres podem ser ameaçadas, agredidas e assassinadas por seus parceiros mesmo com ordem judicial restringindo a proximidade, porque o Estado não protege mais ninguém nem se preocupa com seus filhos; Se crianças e adolescentes são assediados e cooptados pelos traficantes de suas comunidades, porque a “grande mídia” os faz acreditar que precisam possuir muitas coisas para serem felizes, mas o Estado não lhes proporcionam condições para conquistarem tudo o que almejam e o tráfico oferta tudo isso com um ar de “facilidade”… E tudo isso é acompanhado pelas crianças e adolescentes, atingidos direta ou indiretamente, que opções eles têm, a não ser retornar ao “estado primitivo de liberdade”, e conquistarem o seu espaço pela força?
A verdade é que a ineficácia, ineficiência e a deturpação absoluta do Poder outorgado pelos subscritores dos Contratos Sociais aos seus Administradores está produzindo um tumulto social, um tipo de protesto, onde as pessoas que não têm poder para administrar a sua própria vida estão apelando para a violência, a desobediência, a desagregação. Se não cuidam de mim, porque eu tenho que permanecer dócil? Se não cuidam de mim, porque preciso respeitar os membros da sociedade que me abandona?
E eu pergunto: Porque mesmo eles devem?
Se eu tiver que dar esta resposta a alguém, como meu filho por exemplo, lançarei mão de muitos recursos didáticos, espirituais, sociológicos, empíricos, etc., para fazer com que compreenda os motivos pelos quais deve lutar pela conquista e manutenção de uma ordem social, através de uma militância social e política organizada, consciente e proativa, buscando equilíbrio e distribuição equânime e justo das riquezas, obrigações e benesses a todos.
Mas nós não estamos falando de crianças privilegiadas como os meus filhos e os filhos de nossos leitores e colaboradores, estamos? Crianças que têm suporte emocional, espiritual, social, que são amadas, ensinadas, orientadas, estimuladas positivamente, criticadas construtivamente. Crianças que reúnem condições de compreender a importância e profundidade desta explicação… Não, não são estas as crianças e adolescentes que estão praticando o bullyng, que nada mais é que um ensaio, um indicativo de como será a sua vida adulta e sua participação na Sociedade que os abandonou…
Será que podemos, cada um de nós, dizer que “não é problema meu”? Temerário, porque quando estas crianças e adolescentes crescerem, verão que você e sua família são mais bonitos, tem mais posses, viajam mais, são mais populares e bem relacionados, etc. Não são estas as motivações do bullyng nas escolas hoje? Serão as motivações dos crimes amanhã… É problema de todos nós!
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