Não acredito que apenas o Boechat, a quem admiro, esteja sujeito a cometer uma gafe destas. Porém, trago o assunto para o blog Coisa Pública a fim de demonstrar como é possível, mesmo a pessoas com um esclarecimento invejável, cair nas armadilhas da tolerância da Sociedade em relação aos Preconceitos relacionados às desigualdades.
É imperioso e urgente que tornemos nossa a indignação da Sra. Márcia.
Transcrevo:
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Crítica ao Ricardo Boechat
Minha amiga Márcia Benevides fez uma crítica muito procedente ao jornalista Ricardo Boechat, com quem trabalhei no Globo por um bom tempo. Acredito que minha relação com Boechat foi além de simplesmente profissional e que, ao menos de minha parte, foi construída uma boa amizade.
A maneira que tenho de endossar o que Márcia disse é publicar aqui o e-mail que ela enviou para a Bandnews:
Prezados,
Gostaria de fazer uma crítica ao Ricardo Boechat.
Hoje, dia 4 de fevereiro de 2010, quinta-feira, por volta das 7:30, ele fez um comentário sobre a iniciativa do Governo em investir 1 bilhão de reais na criação de cédulas com tamanhos diferenciados, a fim de proporcionar maior independência às pessoas com deficiência visual.
Pois bem…
Segundo ele:
“Tudo bem que devemos pensar nas pessoas com deficiência visual, pois elas fazem parte da sociedade, mas será que o Governo não poderia investir este dinheiro em coisas mais importantes?”
Ele ainda fez um breve comentário, dizendo que a informação que ele tinha era que pessoas com deficiência visual conseguem diferenciar as notas com o tato, mas que ele não tinha certeza desta informação.
Esse foi o comentário que ele fez!
Sempre admirei as colocações do Boechat, mas desta vez ele foi muito infeliz!
Boechat,
Em primeiro lugar, gostaria de esclarecer que os deficientes visuais não reconhecem as cédulas. Eles podem até ter alguns macetes para diferenciá-las. Geralmente, eles pedem a pessoas de confiança para dizer os valores das notas, guardando-as em locais diferentes (carteira, bolso direito da calça, bolso esquerdo da calça, bolso da camisa, etc), a fim de facilitar o manuseio das mesmas.
Em segundo lugar…
Sabemos que existem inúmeras ações importantes a serem resolvidas no Brasil e no mundo e que, de fato, 1 bilhão de reais é um enorme investimento. No entanto, acho que já passamos da hora de respeitarmos e aceitarmos as pessoas com deficiência como cidadãs.
Por que todos os assuntos relativos às pessoas com deficiência nunca são vistos como “coisas importantes”?
Por que as ações voltadas para essas pessoas sempre ficam “na gaveta”?
Por que sempre são colocadas em pauta a serem resolvidas em momento posterior e, na verdade, nunca são resolvidas?
Chega de exclusão social!!!
Chega de excluirmos negros, obesos, deficientes, portadores de HIV, homossexuais, feios, pobres… Enfim, chega de ficarmos em uma posição de “julgadores” daquilo ou daqueles que, apenas por não atenderem à padronização social estabelecida por não sei quem, não conseguem exercer, minimamente, sua cidadania de forma plena e digna.
Meu nome é Márcia Benevides. Sou psicóloga e tenho deficiência visual. Estou inserida no mercado de trabalho formal e tenho uma vida social totalmente “normal”, necessitando, portanto, manusear notas de dinheiro em meu dia-a-dia, como qualquer outra pessoa que não possui “deficiência aparente”. Digo “deficiência aparente” porque muitos por aí, como talvez seja nosso querido Boechat, possuem inúmeras deficiências que, de uma forma hipócrita, não são visíveis aos olhos de grande parte das pessoas.
Quero registrar aqui minha indignação quanto à colocação do Boechat.
Meu caro Boechat, dessa vez “sua bola foi pela linha de fundo”!!!
PS: Gostaria muito que essa mensagem fosse transmitida ao Ricardo Boechat.
Grata,
Márcia Benevides
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